ENTREVISTAS

Entrevista com a poeta e artista plástica, Graça Campos

1- Quem é Graça Campos?

Sou uma mulher e uma menina em busca da felicidade, dos sonhos realizados, da paz. Desejo um mundo muito melhor, aonde sejamos todos verdadeiramente irmãos.




2- O que são as artes plásticas para você?

Um mundo onde as habilidades e a intuição falam acima de tudo. É uma forma de expressão, ou várias formas, onde as cores dizem muito mais que palavras.

3- Cite alguns pintores que influenciaram, de alguma forma, as suas obras:

Os impressionistas: Claude Monet, Renoir, dentre outros nesta tendência. A minha predileção é pelo Van Gogh, ele é encantador para mim, um gênio realmente. Uma de suas obras que acho mais maravilhosa chama-se: A Noite Estrelada. Outro estilo que gosto muito é o de Picasso. Quanto aos brasileiros, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, do Modernismo.

4- O que lhe dá mais prazer? Escrever? Pintar? Fotografar?

São três ocupações maravilhosas, e todas as três são arte! Quando estou pintando, prefiro a pintura, tenho desenvolvido muito a poesia. Em ordem, prefiro as artes plásticas, literatura, e por último a fotografia.

5- Sabemos que um hobby seu é fotografar e trabalhar com edição de fotografias... De onde vem esse prazer?

Este prazer vem justamente da imagem. A imagem é um texto tão complexo... é um registro que vai além das letras, muito especial. A imagem passa-nos sensações que nem sempre conseguimos transpassar para o real, para que os outros vejam aquilo que a gente registrou mentalmente. Na maioria das vezes, as coisas que imaginamos não conseguimos capturar nem com as lentes de uma máquina, nem em palavras ou em pintura.

6- Falando de sonhos... Você tem o desejo de fazer uma grande viagem?

Europa! Visitar castelos da Idade Média, pintar numa praça de Paris, onde os pintores franceses se reúnem para pintar, e lá eles são respeitadíssimos.

7- Como a Internet auxilia e/ou atrapalha seu trabalho?

A internet é fonte de pesquisa, divulgação. Acredito que a internet não me atrapalha em nada, só me ajuda. Faço intercâmbios, Exposições Virtuais inéditas, e isso provoca uma sensação de bem estar e auto estima. Recebo muitas apreciações de pessoas que nem conheço e acabamos nos tornando amigas... Recebo muito apoio.

8- O que é mais importante na vida de Graça Campos?

A família.

9- Fale de uma obra sua, pode ser a preferida... E de um poema que tenha escrito numa situação bem particular.

Obra preferida: não sei se tenho...
Já pintei muitas telas, às vezes nem me lembro de todas, mas uma obra que penso ter conseguido explicar o porque dela ser preferida, pois ela é lição de vida de minha adolescência, é a mulher do campo, a Vendedora de Bananas, Pedrelina.
Gostei muito do meu texto “Caminheiro”... naquele momento eu estava vendo e ouvindo a voz daquele que estava me passando as respostas de minhas questões... Caminheiro...

(Óleo sobre tela, 50 X 70 - "Pedrelina, A Vendedora de Bananas")

10- Você escreve para o leitor? Ou nesse momento de criação nada importa?

Nada importa. Vem... ... ...
Eu escrevo... caso seja uma crônica, penso um pouco mais. Quando eu quero passar uma mensagem elaborada, já é mais trabalhado sim, mas, na maiorias das vezes, o texto vem pronto, como se fosse um relâmpago. A forma como ele foi elaborado antes de vir, isso eu não sei explicar... Fico muito feliz quando ele está pronto.

11- Como e quando mais ocorre o seu processo criativo?

Acredito que seja quando estou introspectiva, ouvindo música clássica, em momentos de paz. Nunca escrevo num momento de guerra interior, posso escrever num momento de tristeza, mas não de conflito.

12- Conte um caso interessante quanto às artes plásticas.

Interessante e meio sofrido...
Em minha segunda Exposição Individual, numa cidade do interior de Minas Gerais, recebi uma pequena colaboração da prefeitura... Vim até a capital para emoldurar as 30 telas participantes, contando com um apoio incondicional do meu irmão Leonildo... Como eram muitas telas, não sabia se daria para colocar todas no mesmo ônibus em que eu embarcaria, e eu não queria, de forma alguma, viajar separada delas. A exposição contava a história e origem da cidade, entrevistei várias pessoas para isso. Na época, recebi um livro de presente de uma amiga, a própria autora, e aquilo mexeu muito comigo, me inspirou, e fez com que eu respondesse, através de telas, as questões de muitos adolescentes e demais moradores daquela cidade. Fiz tudo isso quase sem “verba”, nem acredito quando lembro...

Graça Campos e sua filha, Karina Campos.

13- Como se deu o retorno financeiro e afetivo de várias exposições das quais participou?

O retorno é o sucesso pessoal em conjunto com a observação dos olhares dos expectadores, dos visitantes, que é impressionante. É um retorno maravilhoso quando você está presente e vê as pessoas passando, parando e olhando, a admirar... A gente não imagina a amplitude do mundo que construímos ali.

14- Você escreveu um livro no ano passado, produziu telas em diversos estilos para a sua próxima exposição... Qual é a linha, se é que ela existe, a separar poeta/escritora, da artista plástica?

Não há uma divisória. No momento é o tema, mas não existe uma divisória. Acredito que isso tudo é um conjunto.

15- Fale sobre suas telas, estilos, cores, significados...

Estou ainda aprendendo, sempre estamos.... Sou uma artista que não me preocupo com a crítica do crítico de arte. Simplesmente faço com prazer o que estou fazendo, e faço para agradar, não para desagradar. Ninguém agrada a todos, mas minha tendência, recentemente, é para o surreal, ou mesmo o abstrato, até porque, nesta nossa contemporaneidade, as formas de registro da arte são diversificadas.

16- Sabemos que você representou o notável município de Belo Horizonte em exposição internacional, no Museu Pablo Neruda, Chile. Conte-nos sobre essa experiência:

Embora eu não tenha ido ao Chile, acompanhei minuciosamente todo o evento pela internet, pelos jornais e College Arte, que me impressionou por sua organização. Realmente, foi um belíssimo evento, e não é fácil participar de exposições, principalmente num museu tão visitado como o Pablo Neruda, no Chile. Foi uma honra, e quero repetir a dose.

17- Qual o estilo de sua tela exposta? Qual o intuito da obra?

Eu poderia ter trabalhado com técnica mista, mais detalhes, mas minha tela foi um grito de alerta, eu quis mostrar o “Pranto” dos homens em relação às águas do planeta.

(Óleo sobre tela, Pranto, 50X50)

18- Como é a vida de uma artista com potencial abrangente como o seu, mas que não aparece na sucinta e medíocre programação das TVs e Rádios abertas?

É de muita garra... Considero-me uma guerreira. Muitas vezes não posso contar nem mesmo com o material de pintura, e isso, com a cabeça cheia de idéias. A valorização das artes no Brasil ainda é muito pequena. O motivo? Sei lá. Não vou colocar a culpa em ninguém.

19- Gostaria de produzir um novo trabalho, unindo as duas artes, escrita e pintura? Como seria isso?

Sim, gostaria! Já têm vindo algumas idéias, já estou me inspirando para uma nova série. Digo isso porque acho muito interessante trabalhar os dois textos, o escrito e o pictórico. Vou deixar bem livre desta próxima vez... As telas não serão exatamente a ilustração dos textos, será um trabalho flexível, pois o social e o contemporâneo pedem isso. Não quero me preocupar em definir nada, serão respostas às questões da sociedade. Quero levantar questões também.

20- O que você sente quando está pintando?

É tão bom...... Muita paz, muita serenidade.
É um gosto, como se eu estivesse comendo um doce, é muito saboroso.

21- Se não fosse artista, o que gostaria de ser?

Acho que atriz, musicista. Alguma outra coisa também relacionada à arte.

22- Já teve que abrir mão de alguma coisa pela arte? Fazer sacrifícios?

Muitas vezes... já tive que renunciar, reduzir gastos, adiar viagens, muitos sacrifícios para poder adentrar neste mundo das Artes Plásticas...

23- Como começou a pintar? E a escrever?

Comecei a pintar telas aos 26 anos, mas eu já desenhava desde criança. Eu estava grávida da minha segunda filha e tive um desejo, de grávida, mas não foi de comer, foi de pintar. Eu não tinha noção de nada, comprei telas, pincéis, tintas... Simplesmente comecei a pintar, e estou até hoje.

Escrevo desde a adolescência, apesar de não ter registrado quase nenhum texto dessa época. Eu não dava muita importância aos registros naquele momento, mas sempre fui muito romântica, sonhadora, sensível...

24- Por que o brasileiro, em geral, prefere comprar roupas e sapatos à obras de arte e literatura? Vivemos numa sociedade “mono culta”?

As imposições da sociedade ainda escravizam a maioria das pessoas. Uma das saídas para que a pessoa se auto afirme, seja pela estética, beleza física, já que a vida do brasileiro é tão penosa, tão sofrida... as pessoas gostam e admiram a arte, mas a arte fica ainda muito distante delas, justamente pelo poder aquisitivo.

25- Cite alguns de seus poetas favoritos.

Clarice Lispector, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, João Cabral de Melo Neto, tantos outros... Inúmeros.

26- Fale um verso de um poeta que você ama.

Difícil, porque não sou muito de declamar, não memorizo com facilidade, mas Camões!

Amor é fogo que arte sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer...

Maravilhoso Camões!

27- Para uma ilha deserta, só podendo escolher uma opção, o que você levaria? Folhas em branco e caneta, ou tela e tintas?

(Risos)... Eu levaria a pintura! As tintas e as telas. E, lá no mato, na ilha, eu arrumaria espinhos, gravetos e escreveria na areia, nas folhas, aonde fosse possível.

28- Conte para as pessoas sobre seu primeiro livro de poemas, “Olhares”:

Meu primeiro livro foi escrito através de alguns anos de pesquisas... Uma das questões abordadas no livro é o universo feminino e a evolução do mesmo. Outro fator que me conduziu a isso foi a busca do entendimento, das origens. Eu sempre quis ter uma irmã, uma presença feminina, companheira e tive. Sempre quis ter filhas, e tive três! A história e luta que vejo, dia a dia, das mulheres afim de conquistarem seus direitos é surpreendente. Ainda estamos longe disto. Ainda estamos navegando em alto mar.

29- O que inspira Graça Campos?

O silêncio, a música, a natureza, a dor, as buscas do ser humano...

30- O que a faz feliz? O que a faz infeliz?

Feliz......... Simplicidade, as reuniões familiares, de amigos, os encontros, abraços.
Infeliz... Choro de criança, abandono em geral, pobreza.

31- Qual é o papel do artista e das artes no mundo?

É muito mais do que a beleza simplesmente estética. A arte registra a história, faz a história, é expressão de vida em todos os sentidos. Essa habilidade que os artistas têm de tornar tudo o que existe no seu imaginário, exteriorizado, deve ser de suma responsabilidade. Não é somente rabiscar e dizer que é arte. Não é qualquer coisa que é arte. Arte é o fazer pensar, é um significado muito profundo. É buscar.

32- Um pensamento que lhe venha à cabeça...

Eu busco a inspiração também na razão... além da emoção.
Acredito que as formas, as cores, a idéia expressa deve ser intuitiva,essencialmente.
Para mim, nunca a obra estará completamente pronta. Sempre estará faltando alguma coisa. Essa é a busca constante da perfeição. Essa é a graça da coisa.

CAMINHEIRO
Graça Campos

Ei, Caminheiro!
És tu mesmo que
Escutas minha voz...
Estou aqui a te ver passar
A registrar a vida
desfilando em nós...
Quanto és seguro ao pisar...
Estás a me guiar?
Escuta, Caminheiro!
És tão calado assim?
Fala!
Quero ouvir a tua voz
Que, sabiamente, já ressoa
tal qual o teu andar...
Por onde andaste, deixaste
fortes e silenciosas marcas.
És misterioso, veloz...
Mas tamanha é tua calma!
Oh, sereno caminheiro,
Segue teu trajeto
Que eu, sorrateira,
vou seguindo o rastro
Para, então, saber que
nesse teu silêncio,
Muito além de ouvir
Posso entender, mil palavras ler
E a esse encontro,
Vou chamar de PAZ!...
Ei, Caminheiro!...

Entrevista concedida à Luciana Campos em 17 de fevereiro de 2010.
Links relacionados à artista:
http://gracacampos.blogspot.com/

9 comentários:


Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
26 de fevereiro de 2010 10:06 Comentário da Maria Ilma Viana de Andrade: Querida Graça, Você está MARA!!!! Maravilhosa. Por quê Graça? Graça significa: dom de Deus, presente, entrega, gratuidade. A grande graça de Deus Pai é o Filho, Cristo Jesus encarnado no meio do povo. Faço minhas as palavras de uma bela amiga Vanessa que a chamamos na GRAÇA.O que posso dizer mais para você, Graça, se a sua arte de viver já disse tudo... Só posso me orgulhar de fazer parte desse momento tão seu! Você é linda!mais que demais! Para ilustrar esse momento só tenho a repetir como dizia FERNANDO SABINO: O Artista é aquele que se propõe a fazer com que a vida seja um pouco melhor, mesmo que se limite apenas a torná-la mais agradavél para os outros. Obrigada. Sua colega de Luta. Maria Ilma Viana de Andrade. Beijossss no seu Coração.
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
Karina Campos disse... Parabéns! Belíssima entrevista! Belíssimas respostas! 100% pertinente; português claríssimo, corretíssimo, conciso, perguntas bem articuladas e elaboradas, contextualizadas, conhecimento antecipatório, percepção aguçada, agressividade ao exigir uma resposta objetiva da entrevistada... Muito bom trabalho mesmo! maravilha!!! Nota: Uma boa formação e sobretudo a formação é um grande diferencial! Pena o mercado de trabalho ser tão pequeno... Imagina que mesmo depois que Fátima e Bonner se aposentarem eles permanecerão em seus lugares... Lu, sucesso sempre! Parabéns! Karina
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
17 de fevereiro de 2010 16:28 Rosangela Miranda disse... Visitei e gostei muito!!! Parabéns para as duas, cada qual com suas habilidades e artes!!! Que Deus as abençõem sempre!!!Sorte e luz!!!
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
20 de fevereiro de 2010 16:50 Comentário de Raquel Ribeiro Campos Silveira Professora licenciada em Língua Portuguesa e Língua Italiana. Graça, inteligência e sensibilidade. Tudo isso reunido numa pessoa tão especial como você, amiga. Vá em frente, você tem tudo para ser vitoriosa! Parabéns, sua entrevista foi ótima. Abraços, Raquel.
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
25 de fevereiro de 2010 05:36 Olá, Luciana, PARABÉNS!!! Belíssima entrevista, fiquei encantado com perguntas e respostas, uma sintonia ímpar , acredito que muito, pela dinâmica que a pauta favoreceu . Não haveria nome mais apropriado para esta grande ARTISTA dos tarços e palavras, Graça. Abraços Cláudio Márcio Poeta, Empresário e Diretor da Ong Alô Vida
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
25 de fevereiro de 2010 10:04 Parabéns Lu! Sua sensibilidade deixou transparecer em seu trabalho que existe arte em tudo, sucesso sempre! Beatriz Araújo Pires Empresária
Graça Campos http://gracaepoesias.blogspot.com/ disse...
25 de fevereiro de 2010 12:25 Gilmara disse... UM TRABALHO PERFEITO COM UMA PESSOA MAIS QUE ESPECIAL,PARABÉNS PELO SEU PROFISSIONALISMO E PELA SUA SEGURANÇA !!
Luciana Campos disse...
Visitem o blog de Luciana Campos, Jornalista, especialista em cerimoniais, com um belo trabalho empresarial, que em breve estará desennolvendo uma revista com Claudio Márcio Barbosa e eu, aqui em Belo Horizonte.. Ela é digna de muitos elogios, pois é séria e cometente e sua beleza não é apenas a exterior . Sobrinha dos atores, autores e poetas Leo & Leo(Leosino e Leonildo Miranda), irmãos de sua mãe, a artista plástica e Poeta Graça campos, que repesenta Cidade de Belo Horizonte e o Estado de Minas Gerais/Brasil , na próxima mostra do Colege Arte(*) (Curadoria geral de Iolanda Gontijo), para o qual foi indicada por Andréia Donadon, que participa com a tela "Elegia a Pollock" (acrílico sobre madeira), no catálogo. Graça Campos tem sua tela "As Muitas faces"(óleo sobre madeira) , nesse belo mostruário em papel couché. Luciana campos é também irmã da Contista Poeta e Psicóloga Karina Campos e Viviane Campos, poeta e psicóloga. Orgulho-me de ter em minhas relaões de apreço, essa linda família. Clevane Pessoa de Araújo Lopes Diretora Regional do InBrasCi em Belo Horizonte, MG Consultora de Cultura da Associação Mineira de Imprensa-AMI
Luciana Campos disse...
Nossa, Lu! O blog tá maravilhoso! Muito profissional! 100% profissional! As entrevistas estão maravilhosas! As respostas arrepiam.... Que realidade a do artista... O amor e a sensibilidade sobrepõe a dura realidade... Não é fácil... Bjos e parabéns sempre! Ka Karina Araújo Campos Consultora Empresarial









Entrevista com os gêmeos, atores, escritores,
 diretores de teatro Leosino e Leonildo


Cartaz Teatral de Coronel Apolodoro Máximo e Gerunço Freudilino


1- Léo, como você se define?
Leonildo- defino-me como um ser humano. Penso que sou normal, mas não sou. Tenho objetivos na vida, projetos, principalmente voltados para a carreira profissional, pois o pessoal é conseqüência disso. Aprendemos todos os dias. No momento, o objetivo principal é o teatro em parceria com a literatura. Vimos um caminho mais agradável em termos de trabalho e terapia, dentro da proposta de teatralizar a vida. Defino-me como um caminhante dentro desta perspectiva de crescimento, dentro do teatro da vida.
Leosino- uma alma imortal a caminho da perfeição embora muito distante dela, que transita no palco da vida.

2- Quero pedir à dupla de atores que coloque suas impressões acerca de seu trabalho, como escritores, poetas, atores, diretores de teatro e tudo mais que esteja ligado à arte e seja prática de vocês, para então iniciarmos essa entrevista, melhor dizendo, esse “bate papo mais que à vontade e informal” que, com certeza, será muito rico para todos nós.
Uma experiência fantástica de aprendizado e vivência de todos os trabalhos; seja literatura, teatro, poesia. Tudo é uma experimentação. Eternidade é viver com intensidade o presente. Vivemos com muita alma, muito intensamente tudo o que fazemos.

3- Como lidam com a relação tão particular de serem irmãos, e ainda por cima gêmeos, e trabalharem juntos?
De forma natural, mesmo porque existe uma afinidade muito grande, embora haja muitas diferenças, principalmente na construção literária. O objetivo é único: aproveitar a oportunidade concedida por Deus para apresentarmos às pessoas algo que buscamos com muito empenho e muita dedicação, em busca de nosso próprio aprimoramento.

4-Após anos de caminhada artística, hoje vocês têm uma Cia de Teatro, a LeoLeo Cia de Teatro, que faz apresentações em toda Minas Gerais, além de outros Estados brasileiros. São mais de 16 peças montadas, textos, figurinos, cenários, trilhas sonoras, etc. Contem um pouco dessa rotina “turbinada”.
Risos...
É muita dedicação para aprender, porque ainda não sabemos nada.
Estamos sempre buscando aprender com os profissionais das áreas. Não há como fazer nada sozinho. Estamos sempre buscando informações. Quanto aos figurinos, por exemplo, tivemos ajuda da Dona Maria. Com relação a cenário, tivemos marceneiros, dentre outras pessoas que nos auxiliaram. Tentamos fazer o que podemos, o que não conseguimos passamos para as pessoas fazerem dentro do que propomos. Vivenciar tanta produção de textos, cenários, figurinos, ter que divulgar, contatar empresas para apoio cultural é um trabalho extenso, mas é muito prazeroso.

5- Sabemos que, na vida, a simplicidade pode nos levar a caminhos positivos não esperados. É na idade madura, com o passar das primaveras que sentimos a necessidade e a eficácia dessa tão simples simplicidade... No caso de vocês, como se dá a relação com o público, com os atores e demais profissionais da área? Como vocês encaram a importância da simplicidade em toda a sua vida e carreira?
Simplicidade é algo fundamental na carreira de qualquer indivíduo. Essa relação próxima permite harmonia e um respeito maior. Todo mundo tem potencial a retirar de dentro de si e, se esse respeito não está presente, parte-se do princípio de que alguém é superior. A relação natural de respeito e proximidade com o público é fundamental. Procuramos nos aproximar do público sempre.

6 -Quais as grandes dificuldades em ser artista no Brasil?
Quais as facilidades?
Acho que a dificuldade maior é uma pessoa se sentir incapaz de produzir alguma coisa. A partir do momento que se tem como objetivo alcançar o público, tem-se em mente a proposta de trabalhar bastante. Não adianta montar uma peça, colocar em cartaz e esperar o público. Principalmente quem está iniciando. Ou se divulga um espetáculo em massa, através da mídia televisiva, que é uma forma mais cara. Esse contato “cara a cara” que enfrentamos dia a dia, além de nos proporcionar uma experiência fantástica, é muito gratificante. As pessoas dizem para nós, pessoalmente, que gostaram muito, que vão assistir novamente. A partir do momento que temos uma estrutura dentro do processo de divulgação, é importante continuar divulgando. A grande dificuldade é a pessoa achar que é difícil de realizar o sonho. Como acreditamos muito, somos persistentes, e assim as pessoas têm reconhecido o trabalho, têm gostado bastante. Inclusive temos conseguido aprovação de grandes projetos por empresas particulares, além do Governo Estadual e Federal.
Facilidade é vestir a roupa, colocar um sorriso na cara, apresentar a peça tendo público ou não. Fazemos da mesma forma, tendo uma pessoa ou o teatro lotado! Facilidade é estar pronto para enfrentar as dificuldades. É um paradoxo! Facilidade e dificuldade são uma questão de postura. A postura como encaramos as situações define se é dificuldade ou facilidade o que se tem pela frente.

7- Falem a respeito da importante atuação como protagonistas no Curta Metragem, premiado, “Dois Coveiros”.
Oportunidade de trabalhar com diretor muito exigente e executar um trabalho completamente diferente do teatro, com outras exigências e linguagens. Essa foi uma experiência que exigiu muito de nós quanto à percepção de alguns detalhes da construção do filme, do texto, do cenário, personagens, e da construção da personalidade de cada personagem. Precisávamos da voz, por exemplo, como um sentido daquilo que o diretor pretendia. O resultado parece que foi interessante, pois na estréia no Festival de Gramado, de acordo com a própria produtora gaúcha, tivemos elogios com relação ao nosso trabalho. E assim sabemos que o esforço valeu.

Leonildo e Leosino no curta metragem: Dois Coveiros (13 minutos)

8- Como vocês se envolvem com a literatura, como produzem os textos? Contem sobre esse processo criativo e o que os impulsiona e/ou inspira na hora da criação.
A produção de texto depende da proposta que se tem em mente.
No caso da poesia, é um trabalho bem subjetivo. Tentamos descrever imagens porque a nossa linguagem basicamente é formada por imagens, isso caso consigamos filtrar verdadeiramente por meio de palavras. O texto para o teatro vem muito carregado. Alem de imagens, temos que elaborar a questão da expressão, movimento, ritmo da fala, tom de voz. É preciso tecer um conjunto para que o personagem tome forma e, como são vários personagens trabalhados dentro de cada peça, temos que cuidar para não nos perdermos. Como cada um tem autonomia, a gente consegue se identificar em cada um, portanto, procuramos não interferir, distanciando o máximo possível da identidade e personalidade de cada personagem. Ou seja, cada um fala por si ao mesmo tempo, com um fio de ligação com aquele que modelou o personagem, permitindo uma intromissão no contexto de cada personagem.

9- Vocês têm idéia de quantos personagens já criaram até hoje?
Risos, risos...
Leosino: Sinceramente, não tenho idéia, tenho que contar.
Leonildo: em torno de 30 personagens!


10- Qual é a sensação de “parir” um personagem?
Leosino: Construir uma imagem em ação, voz própria, trejeitos próprios, como se fosse um filho único que não é único. Cada personagem que surge parece tomar vida própria após sua criação. Essa idéia inicial parece vir como algo que somente a intuição pode explicar. Em determinado momento... Na rua, dormindo, pode ser que surja um personagem. Agora, as outras idéias vão surgindo em conseqüência. Pode ser que modifique uma coisa ou outra. O interessante é que nasce com voz!
Leonildo: uma vez minha mãe me perguntou: o que você está escrevendo?
Respondi: Não sei, não escrevi ainda. Meia noite, eu lá no computador, minha mãe levantou assustada porque o personagem era um lobisomem, e ele estava lá, incorporado. Risos, risos...
Cartaz da peça "Assombramentos -  Uma Comédia de Arrepiar"

11- Qual dos personagens é mais próximo do ator, mais subjetivamente criado?
Leonildo: Ainda não fiz... Acho que todos se aproximam de todo ser humano, cada um tem um pouco de todo personagem que se apresenta. Ninguém está imune.
É inerente ao ser humano, até mesmo o lobisomem.
Leosino: Acho que os personagens podem revelar alguns pensamentos do ator e autor, embora muitas vezes o que se pense não esteja se referindo à personalidade do ator. Pode ser baseado em algum conhecimento filosófico ou mesmo mitológico para demonstrar aquilo através de um personagem.

12- Como é essa convivência diária com o personagem, o que eles os ensinam? O que aprendem com Leo e Leo?
É uma troca. Às vezes a gente se pega no dia a dia rindo “do” e “para” o personagem. E às vezes o personagem se pega observando o ator. Se for para divulgação da peça, o personagem chega até a modificar alguma atitude do ator. Ator e personagem são independentes. Nunca saí fantasiado de personagem!

13- Socialmente falando, qual é a contribuição da Cia de Teatro LeoLeo e suas peças para a conscientização de temas relevantes, para o crescimento intelectual das pessoas?
Contribuímos através do interesse em criar textos com certa profundidade filosófica, psicológica, histórica. A proposta não é moralizar as pessoas, mas permitir reflexão através da fala dos personagens. Além desses temas, outros relacionados a aspectos ecológicos, para que as crianças, principalmente, vejam de forma lúdica as situações possíveis de realizar em prol do crescimento próprio e da preservação da natureza. Contribuímos também na construção da identidade do cidadão. Ilustrando este tema, conto que fizemos um trabalho educacional em 12 cidades de Minas, com educadores e artistas locais, oficinas de Leitura com Arte em uma Instituição beneficente de Sabará, MG. Foi uma experiência enriquecedora!

14-Como ocorre a captação de recursos para a produção das peças?
Captação de recursos é para projetos de lei de incentivo. O que conseguimos para as peças é um apoio cultural de pessoas e empresas que se sensibilizam com nosso trabalho, o que tem contribuído muito para nossa manutenção e possibilidade organizacional de estabelecer um calendário anual de apresentação. Isso nos dá tranqüilidade para poder trabalhar mais com a produção, e ainda a divulgação do espetáculo, visto que não fazemos apresentações só em BH. Temos custos com viagens, projetos, e quando marcamos apresentação em BH esse apoio contribui muito.

15- O que vocês estão lendo ultimamente? 
Leonildo: estou relendo a série Ramsés, do egiptologista Christian Jacq, como material de construção, olhando tecnicamente a construção literária em termos de diálogos, juntamente ao embasamento do aspecto histórico, visando um trabalho posterior, que, aparentemente, não tem nada a ver com esta literatura. Contudo, tudo o que se põe às vistas é alimento e aprendizado.
Paralelamente, comecei a ler alguns livros sobre relacionamento homem/mulher para construção de uma nova peça.
Leosino: A Mitologia Grega Volume 1, II e III, de Junito de Souza Brandão, e As Metamorfoses, de Ovídio, para construção de uma nova peça.

16- O que vocês acham do nosso Estado Minas Gerais como palco teatral? Ser mineiro, estar em Minas, tem ajudado?
Minas como palco teatral é um cenário natural que permite proezas, pois o povo é receptivo, as cidades são maravilhosas, o carinho com que temos sido recebidos nos locais de apresentação é muito grande. Isso nos inspira a falar de Minas, das suas riquezas com muito mais intensidade. Ser mineiro é parte disso, somos parte desta arte que Minas representa por si mesma.

17- Qual a sensação de subir num palco e atuar?
É inusitado. Cada segundo que você pisa e repisa um palco é como se sentir no céu. É uma viagem fantástica de muita energia, sentimento, amor... É outro mundo possível, que se realiza com a satisfação, a plenitude de ver concretizada a criação, e ver este reflexo nas pessoas que nos assistem.

18- Quais os próximos planos profissionais? Aonde ainda querem chegar?
O nosso caminho está aberto às conquistas. Quais serão, nós não sabemos, estamos trabalhando para que o resultado venha naturalmente. Não estamos ansiosos para nenhum tipo específico de conquista, ela surgirá naturalmente no dia a dia.

19- Sabemos que vocês têm percorrido um caminho sólido no teatro há aproximadamente cinco anos. Neste tempo já atuaram em vários espetáculos, produziram peças, escreveram livros e fizeram divulgações de seus trabalhos. Como é a experiência de escrever, produzir cenário, figurino, trilha sonora, e ainda atuar em uma mesma obra?
Quando vamos construir um trabalho em que conhecemos cada passo a ser dado com cautela e experimentação, possibilitamos um crescimento próprio como profissionais e até mesmo crescimento dos personagens que visualizam de forma ampla todo o contexto do trabalho que é produzido.
Quando temos essa visão mais alargada num todo, permitimo-nos crescer de várias formas, abrindo possibilidades de uma troca desses papéis todos. Sabemos que cada pedaço que está sendo construído e formando esta colcha de retalhos tem muito valor. Cada pedacinho disso aí traz um resultado muito satisfatório. Caminhamos sobre pedras e espinhos com a consciência de que conseguimos um resultado não só atingindo o ápice que é a resposta do público, mas também sentindo esse crescimento e essa troca entre parcelas de contribuição que nos dão uma bagagem maior, e ao mesmo tempo, integrando esse universo.

20- O que lhes dá prazer maior no teatro, atuar ou escrever?
O prazer da escrita difere do prazer de atuar, embora ambos sejam excitantes. Não há medida de comparação porque ambas as realizações são altamente significativas.

Obras literárias escritas por Leosino e Leonildo (separadamente)

21- Cursos teatrais os ajudaram a criar personagens, roteiros, produzir em geral?
Nunca fizemos cursos teatrais. Acho que a escola da vida não dá diploma. Continuamos aprendendo a vida toda. A nossa escola é o dia a dia e a nossa experimentação com a criação literária, juntamente à poesia, que é muito subjetiva e que nos levou a pensar no teatro. A nossa escola foi basicamente a poesia e a prosa, além de várias peças que assistimos antes de tudo começar. O nosso trabalho foi de autodescoberta. Vimos nos personagens da literatura um encontro com eles em pensamento, o que nos possibilitou nosso encontro com eles no palco.

22-Como a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança contribuiu para a carreira dos atores Leo e Leo?
Foi uma oportunidade de demonstrar um pouco do nosso trabalho através do maior projeto teatral do Brasil, pelo qual muitas empresas passaram a conhecer um pouco de Leo e Leo.
Cartaz da peça "Doidos Demais"

23- Há diferença entre as platéias? Como o personagem/ator capta a energia e receptividade do público? Como as pessoas presentes os ajudam a encenar?
Temos que nos preparar o tempo todo para qualquer tipo de adversidade, mas, às vezes, essa adversidade está em nós mesmos, como algum tipo de pensamento negativo, ocorrências do dia a dia que nos levam a pensar que aquilo ali não está bom.
Felizmente, como otimistas convictos e, ás vezes, até presunçosos, acreditamos que o público que vai nos assistir o faz com alegria, buscando um prazer. Raramente encontramos pessoas que experimentam pela primeira vez uma atividade como o teatro e percebemos assim uma certa inibição. Cabe a nós trabalharmos de forma que as pessoas não se sintam melindradas com alguma intervenção. Essa sensibilidade que é perceber no outro uma abertura e a possibilidade de participar da peça é o que faz com que a apresentação se torne uma coisa natural e agradável para aqueles que ali estão.


24- Vocês têm algum ator de preferência?
Leosino: eu não tenho um ator de preferência. Admiro vários profissionais do teatro, TV e do cinema.
Leonildo: vários atores muito bons. O Brasil é rico em termos de produção artística. Admiro as qualidades de vários atores de teatro, cinema, em particular somo as qualidades de todos para poder construir alguma coisa em termos de aplicação no meu trabalho.
25- Como é a relação entre vocês dois? São amigos? São colegas de trabalho, são companheiros de cena? Qual é o segredo para o sucesso desta ”parceria”?
O segredo do sucesso é ser tudo isso. Amigo, colega e companheiro.
Tudo contribui, pois tudo isso faz parte da própria existência, viver em harmonia com as pessoas, respeitando a liberdade de ser e de criar de cada um.

26- Como vocês, como autores, atores e produtores avaliam o atual cenário do teatro brasileiro? Quais seriam as principais e imediatas mudanças?
Acredito que em termos de estrutura para apresentações no interior de Minas principalmente, são poucas as cidades que têm teatro.
Uma forma de incentivar, além desta criação de espaços apropriados, seria intensificar ou mesmo adotar dentro do currículo escolar o teatro como processo de comunicação e leitura.
Cartaz de Coronel Apolodoro Máximo, um dos diversos personagens criados  por Leosino

27- Empresários, ex-jogadores de futebol, estudantes de Administração, enfim... Diante deste perfil, o que os motivou a experimentar ares novos, como o teatro?
Ser humano neste planeta Terra é ser artista num palco de muitas oportunidades, e o teatro nada mais é do que um palco em que nós podemos expressar muito do que aprendemos na escola, no campo de futebol, no trabalho em geral, na família, com os amigos. É um momento de revelar descobertas de nós mesmos. A arte de representar aquilo que se constrói, como é o nosso caso que escrevemos nossos próprios textos é algo fascinante porque nos permite a exposição das nossas idéias, dos nossos sentimentos, desejos, às vezes de forma irônica, às vezes de forma sensível.


28- Com relação ao trabalho na grande tela, pretendem seguir os rumos cinematográficos?
Não é nosso foco no momento, mas como ocorreu a nossa experimentação de forma inesperada, nunca se sabe.
29- Para onde mais gostariam de levar seus projetos?
Para outros Estados do Brasil e para o Exterior.

30- Como ocorre a escolha do elenco e músicos convidados?
Escolhemos de acordo com cada peça e naturalmente, de acordo com a percepção e sensibilidade do músico ou ator com relação à proposta a ser apresentada.

31- Vocês são artistas, essa é uma profissão bem remunerada?
Risos...
A remuneração é construída pela vontade e pelo interesse de cada grupo teatral, bem como de sua visão profissional do trabalho em si.
32 - Vocês preferem atuar como personagens dramáticos ou cômicos?
Os dois. São experimentações diferentes, mas vividas com emoção e intensidade. O drama é construído com uma emoção à flor da pele, e o humor é hilário.


Gerunço Freudilino, um dos diversos personagens criados por Leonildo


33- A vida imita a arte, ou a arte imita a vida? Filosofe sobre isso.
A arte de viver permite que nos expressemos de inúmeras maneiras, fazendo com que muitas vezes sejamos realistas ao imitar a arte, e artistas ao imitar a vida.

34- Qual o seu maior sonho como ator?
Leosino: representar até o fim dessa existência. E depois, continuar representando sempre.
Leonildo: Continuar atuando. Cada experimento é único, e é a realização de um sonho. O tamanho do sonho depende de você.
35- Algo curioso já ocorreu em alguma apresentação? Algo que não estava no roteiro?
Uma vez apresentamos um projeto que foi proposto para uma idade entre 10 e 15 anos. Quando entramos em cena nos deparamos com crianças de 6 e 7 anos. Tivemos que mudar quase a peça inteira durante a apresentação. Tivemos que criar uma peça em duas horas pela falta de comunicação do produtor e do público chegar em cima da hora.


36- Vocês trabalham muito com o improviso? Se, sim, como é isso para o ator que está ali, na hora do espetáculo? Como o público reage?
Trabalhamos com o texto, embora estejamos sempre abertos para acrescentar algo no desenrolar da peça. Isso faz parte de certo improviso que somente com a experiência o ator se permite de forma natural e espontânea.


37- Vocês gostariam de interpretar algum personagem específico que já viram ou leram e que ainda não fizeram? Qual seria?
Nós preferimos criar personagens.


38- O que o público pode esperar de vocês daqui pra frente? O que vem por aí de novidade?
Estamos construindo duas peças. Em breve elas virão a público.


39 - Gostariam de agradecer a alguém em especial por ter contribuído com a carreira e desenvolvimento profissional de vocês?
Várias pessoas a começar pelos de casa, apoio incondicional, moral.
Tivemos e estamos tendo em todos os projetos de apresentação em BH apoio e respeito de várias empresas que têm a visão e a sensibilidade voltadas para a valorização da cultura.
Atualmente um projeto de Lei Federal apoiado pela Cemig e vários projetos como: Projeto Infância Brasil (Fundação Belgo, Grupo Arcelor Mittal), Conversa ao Pé do Fogo (Fundação Acesita, Arcelor Mittal), Ecos da Terra (CAF Arcelor), Cenibra, Teatro Empresarial sobre Meio Ambiente (Petrobras), Projeto de Valorização do Turismo em Minas (Ministério do Turismo, Secretaria de Estado de Turismo MG e SENAC), SESC, Banco Mercantil do Brasil.
Agradecemos também às empresas que sempre nos apóiam nas peças abertas ao público em geral, quando realizadas em BH e interior do Estado.


40- Sonhos? ...
Leonildo: É bom sonhar...... O sonho é tudo desde que seja consciente.
Estou vivendo um sonho.
Leosino: Acontecerão.

Entrevista concedida a Luciana Campos em 12 de março de 2010
Fotos retiradas do site: www.leoleo.com.br
Contatos dos atores: (31) 9950-3617 begin_of_the_skype_highlighting              (31) 9950-3617      end_of_the_skype_highlighting e 9673-1508





Músico, poeta, cantor e compositor, Reynaldo Bessa

Bessa no show no novo Villaggio - 2008

1- Bessa, por Reynaldo Bessa.

Oscar Wilde disse que um homem é sempre menos sincero quando fala de si mesmo, dê-lhe uma mascara e ele contará a verdade. Gosto muito dessa máxima. Uma coisa é você saber quem é, outra completamente diferente é dizer aos outros o que isso representa. Há um poeminha no meu livro que traduz bem esse desassossego: “Eu sou o que lembro ou o que esqueci?” Mas, sei lá...Acho que nasci ligado e esqueceram de acrescentar o interruptor de desliga ao kit. Estou sempre tentando transformar algo em alguma coisa. As vezes não me conformo que o nascer do Sol seja apenas isso...Blake via anjos pulando, eu vejo outras coisas. Muitas vezes penso que tenho dois, três ou até dez metros, pois estou sempre querendo pular de mim mesmo, escapulir, sair do que sou. Isso acontece quando uma manhã de domingo de Sol e céu azul, ardendo lá fora, entra no meu quarto e arranca meus lençóis e diz “vem, tô te esperando” ou quando uma noite de veludo azul intenso desliza seu pingente luminoso bem no meio do peito. Mas isso acontece também quando vejo um homem, numa noite de muito frio, agasalhado pelo abandono, pela fome, pela insanidade e principalmente quando percebo seus olhos presos num lugar que jamais saberei onde fica. Isso me dá também a ligeira e vertiginosa impressão que sou outros além de mim...e como definir todos eles? Por isso e por tudo mais, escrevo. Escrevo para não desenlouquecer. Escrevo para desacreditar no que penso que acredito. Escrevo porque esse mundo real não me preenche, não me basta, não me realiza e preciso sempre ser arrebatado. Necessito chegar primeiro do que eu, não sei onde, mas preciso. Não escrevo pra me vingar, como já disseram, não. Há vinganças demais. Escrevo porque penso que isso seja o mesmo que libertar palavras e soltá-las no infinito céu branco do papel para que olhos atentos apreciem seus voos. Na verdade sabe o que realmente sou? Quando minha mãe levantava-se dentro da madrugada e arrastava seus chinelos, eu não queria mais nada. Eu sou o som dos chinelos de minha mãe.

2 – Bessa, quem o conhece afirma que a “Simplicidade”, adjetivo tão valorizado e aprimorado com a passagem dos anos, é uma das suas principais características pessoais. Você concorda com isso? Aonde essa “simplicidade simples” já o fez chegar?

Essa palavra sempre me soou dúbia, mais ou menos como um beijo e um bofetão logo em seguida – não necessariamente nessa ordem – pra mim é uma das palavras mais complexas, pois ao mesmo tempo em que é sinônimo de naturalidade, elegância, caráter próprio, franqueza, espontaneidade, naturalidade, é também sinônimo de Ingenuidade. Algumas palavras são mesmo complexas. Como pode uma palavra com todas essas denominações se chamar “Simplicidade”. Isso ou aquilo, se a mensagem chega ao endereço certo, se as pessoas conseguem atravessar o meu-seu mar de memórias, de palavras, tá valendo.

3- Ser simples é o elo que o une às suas belas composições?

“O trabalho, a dedicação, a observação constante, a prática, o exercício da palavra, os arranhões e os suicídios diários e uma coisinha que não sei o nome, pois sempre me escapa, são os verdadeiros elos que me unem as minhas “Belas” canções”

4- É preciso que o poeta esteja vivendo um momento “especial e diferente” em sua vida para compor letras profundas, belas, e ao mesmo tempo simples de se assimilar, como as suas?

Só é preciso que ele esteja vivo...o resto vem..alegre ou triste, realidade ou fingimento, não importa, mas vivo, e quando digo vivo, não estou me referindo somente ao de estar “respirando”, mas sim, sugar a sétima pele da vida com a leveza e profundidade de um caipira preparando o seu cigarrinho...

5– Poderia resumir em algumas palavras, o que significa subjetivamente, cada um de seus cinco discos? O que “esses filhos” representam para você?

Outros sóis – aprendendo a desandar
O Beco das Frutas – a insustentável leveza da ansiedade
Angico – vontade de subir em árvores e atravessar açudes
Com os dentes – flertando com os caninos dos poemas
O som da cabeça do elefante – o sorriso de minha mãe, no portão, num final de tarde dentro da minha infância cheirando a pães recém-saídos do forno.

6 - Como acontece o processo criativo para você, desde a idealização de um novo projeto até sua execução final?

A coisa não é linear...não existe começo, meio e fim. Eu nem sei quando começa. As vezes nem quero que comece. Antigamente quando essa luz começava a piscar, eu parava tudo que estava fazendo e me debruçava sobre ela. Talvez um reflexo da inexperiência...agora espero um pouco...deixo a coisa crescer...me perseguir, me bolinar...vou fazendo o que tenho que fazer, quando enfim percebo que a onda é bem maior do que pensava, paro tudo e me dedico completamente a isso. Entro em parafuso, desapareço e só retorno quando está acabado ou pelo menos bem encaminhado.

7- Como ocorre a captação de recursos, num país onde a maioria das pessoas ainda não consegue usufruir, por falta de recursos financeiros, da cultura e do lazer de forma satisfatória? O dinheiro do aluguel, das contas, de onde vem?

Essa é uma questão difícil demais de responder, quer dizer, eu não tenho o menor tato com esse mecanismo. Não estou falando de todos os artistas, muitos lidam com isso com exímia maestria, falo de mim. Esse mecanismo tem botões demais. Sinceramente gostaria muito que as pessoas não tivessem que pensar somente no pão de amanhã, mas na cultura de cada dia, até porque isso refletiria no meu trabalho, mas isso não depende somente de poder aquisitivo, passa também por outras vias complexas. Se assim fosse, os ricos seriam os intelectuais desse país, e isso não é verdade. Falando de mim, pago minhas contas com o meu trabalho, mas quando não posso, não dá, faço como John Fante, apago a luz e vou dormir. As contas não me enxergam no escuro.

8 – Se tivesse que recomeçar, mudaria alguma coisa em sua carreira? Em nome da arte, você recomeçaria a caminhada, não tão simples, de ser artista no nosso país?

Eu sempre digo que quem quer comodidade não mexa com arte...ninguem sai ileso depois que se mete com ela...no começo o artista estranha, mas se ele for bom, tiver cacife, entenderá tudo...Eu não mudaria nada. Se tivesse que recomeçar, recomeçaria do mesmo jeito, faria tudo igualzinho. Aprendemos com os nossos erros. Betty Davis disse uma vez que a velhice não é para os covardes...eu digo o mesmo da arte, mas, claro! Espero que numa próxima eu possa encontrar meu país investindo mais em seus artistas, valorizando-os mais e espero que esse país seja o Brasil.

Bessa e Luciana Campos - Show Verão Poesia

9 – Se não fosse poeta e compositor, o que seria?

O criador do Google.

10- Você gosta e se emociona com suas próprias composições? Como é, para você, ler e ouvir o seu trabalho?

Quando começo a fazer um disco: pesquisar timbres, pensar nos arranjos, escolher músicos, ouvir os primeiros resultados, eu curto muito isso, mas quando entra no processo de mixagem, masterização e todo o resto, perco o interesse... Ai deixo isso com alguém. Quando o disco chega faço uma audição minuciosa. Depois o esqueço por um bom tempo... vez em quando vou lá e dou uma ouvidinha...percebo uma coisa boa aqui outra nem tanto acolá e chego até a me emocionar, mas nada exagerado. Com o tempo o artista aprende a ver a coisa de um ângulo muito peculiar. Com a literatura vou até o fim. Acho que por ser o meu primeiro livro e por não exigir tanta exposição como na música, talvez por isso esteja curtindo mais... sei lá...acho que é uma forma divertida de brincar sozinho numa gangorra.

11- Cite alguns poetas e compositores que você admira.

Gosto de muita gente: Dos poetas: Piva, Murilo Mendes, Mário Quintana, Rimbaud, Baudelaire, Bukowski, Carpinejar, Cruz e Souza, Mário Faustino, Wilmar Silva, Ferreira Gullar, Mário e Oswald de Andrade, Drummond (não tudo) Os irmãos Campos, putz, ia esquecendo de um que adoro: LEMINSKI e muitos outros.

Dos compositores: Caetano, Chico Buarque, Gil, Milton, Mutantes, Bob Dylan, Neil Young, ainda gosto do Coldplay, Leonardo Cohen, Bruce springsteen (só os primeiros discos).
Francis Cabrel, Jorge Drexler...Radiohead. Gosto de Elvis...ouvi alguém dizer que o Elvis na fase decadente era ainda melhor do que muitas bandinhas de hoje...concordo...gosto demais desse branco com voz de negro...Elvis me deu muitas aulas de canto e eu nunca o paguei por isso...você entende, né?

12- Você tem alguma composição de maior valor sentimental?

Não tenho predileção por essa ou por aquela canção. A “Predileção” é a mãe do primeiro e mais famoso crime da história da humanidade. Gosto de todas. Não vejo uma música em especial, vejo a obra num todo.

13 - Qual a linha a separar cantor, compositor, poeta, escritor e homem Reynaldo Bessa, se é que ela é capaz dessa separação? ... Até que ponto ocorre seu envolvimento com a obra?

Mesmo que eu soubesse, teria sempre o prazer de cruzá-la. Acho que esse é o grande barato, fuçar outros códigos... o poeta gosta de dormir com o cantor que por sua vez passeia de mãos dadas com o compositor, enquanto este flerta com o escritor...é uma verdadeira e prazerosa orgia profissional

14- O que mais o realiza? Cantar, compor, escrever poemas?

Primeiro fazer amor, depois um café bem quente, puro... aí... sim, estou pronto pra “Cantar, compor e escrever poemas”

15- De onde vem a inspiração para compor letras como “Por amor”, parceria com Zé Rodrix, gravada pela Banda Ira em Acústico MTV e “Cartas de amor”, canção tão profunda? Neste caso, o poeta precisa sempre estar num momento de solidão, de melancolia?

(rs), no caso de “Por Amor” foi muita pressão, nada de inspiração... nem transpiração. Com o Zé Rodrix, meu parceiro, era tudo pra ontem...então um dia ele me enviou uma letra e disse “faz uma música que o Nasi (vocalista do IRA!) quer uma parceria nossa. Aí eu perguntei “É pra ontem?”E ele respondeu “não, é pra anteontem” apesar da pressão, curti muito fazer “““... olhei pra letra e vi a música... sai tocando... eles adoraram... está no CD e no DVD. Esse momento é um marco na minha carreira. Às vezes toco essa canção por ai e tem gente que quer me bater quando digo que é minha. No show do Ira! Quando eles a tocam e o público vai ao delírio, eu fico bem caladinho. Imagina se eu saio gritando? “Essa música é minha, essa música é minha” com “Cartas de Amor” o processo foi outro. Eu estava me separando e quando o Wilmar Silva me mostrou esse poema, pensei logo “vou musicá-lo” Trabalhei nele um bom tempo. O tempo que necessitava pra ficar uma das músicas do disco que mais gosto de cantar.


16- Com os Dentes, por exemplo, é um disco formado por parcerias de sucesso. Como você faz para compor em dupla? Estão sempre juntos num mesmo recinto? Ocorre também por email, ou à distância?

Bom, com os poetas mortos foi tudo psicografado (rs) brincadeira... o único poeta que comunguei diretamente todo esse processo, foi o Wilmar Silva...desde a escolha dos poemas, até a sua finalização...o Wilmar participou até da gravação ao vivo do disco...ele leu trechos do seu poema gravado...afora ele...tudo foi conversado, combinado, rotulado e carimbado por emails...e dá-lhe emails

17- Qual a sua preferência, compor em conjunto ou sozinho?

Não é preferência, é hábito... trabalhei muito tempo sozinho e me acostumei a isso...só muito depois comecei a compor com outros parceiros...gostei, gosto, mas hábito é fogo, né? Dizem que são eles que verdadeiramente nos prendem ao mundo.

18- Mossoró, sua terra natal no Rio Grande do Norte, é uma de suas grandes inspirações para compor, como já lemos a seu respeito. O que mais o encanta em sua terra? Qual a importância das “raízes e bases” em sua carreira?

Como escrevi em um dos meus poemas que está no livro “Outros Barulhos” – “Por mais que se rabisque infinitamente o papel, nada mudará o primeiro ponto. Ponto final.” Mossoró é o meu cais, meu porto... foi onde eu comecei a compor as primeiras canções. Por mais que eu ande pelo Brasil ou pelo Exterior, meu primeiro ponto sempre será Mossoró. Sempre que me perco por ai e me pergunto quem sou? Procuro focar minha cidade e logo sei onde estou e quem sou realmente. Tem uma lembrança que talvez pra muita gente não soe como boa, mas pra mim sim, pois me remete a um lugar inviolável da minha memória. “Lembro que no final de tarde, quando íamos comprar pão, tínhamos que passar pelo presídio, o único na cidade, e ai víamos os presos, atrás das grades, sentados nos parapeitos das janelas”. Isso era de frente pra rua... se eles quisessem, poderiam puxar nossos cabelos, mas não queiram isso, suas intenções eram outras: Queriam cigarros, uma revista de mulher nua, um gibi, fósforos ou simplesmente dá um “Olá” para espantar seus fantasmas mofados. Alguns deles já eram velhos conhecidos nossos... eu sempre trazia cigarros, fósforos. Quando me pego lembrando disso me dá a impressão de que morei dentro de um livro do Gabriel Garcia Márquez. Infelizmente vou muito pouco a minha cidade natal, mas sempre que me esqueço, mesmo que por alguns minutos, quem sou realmente, imaginariamente, caminho pelas ruas melancólicas de Mossoró e levo cigarros, fósforos e bato longos papos com os presos, que sem saber, libertaram a minha adolescência.

19– Bessa, quem conhece seu trabalho, lê seus poemas e ouve suas composições só pode ter um pensamento: “Como é que esse artista, tão talentoso e completo, ainda não é reconhecido pela grande mídia”? Portanto, pergunto: Qual o reconhecimento esperado por um artista como você? O que é o sucesso?

Fico feliz que você pense assim, mas essas são preocupações que não me afligem mais. Quando eu tinha 17 anos, esperava o sucesso como um rapaz espera sua noiva no altar. Com o tempo aprendi que “Sucesso” significa outra coisa. Óbvio que continuo querendo que meu trabalho seja reconhecido, pois é dele que tiro o meu sustento, mas não da maneira como a grande mídia quer. Penso que o maior obstáculo, hoje, para impedir que um artista faça “sucesso”, por incrível que pareça, é a qualidade. Não há o menor interesse em qualidade. Atualmente o grande lance é o do mero entretenimento. Um dia cheguei a pensar que o problema estava em mim, mas com o tempo encontrei uma trupe de ouro na mesma situação que a minha. Não perco mais tempo reclamando, faço, trabalho e o problema não é meu, é deles. Hoje sei disso muito bem. Sucesso pra mim é reconhecimento sem nenhuma afetação. Sem essa coisa de ídolos, histeria, delírios, estraçalhar de roupas, choros e desmaios. Tudo isso é teatro barato. Tanto na música como na Poesia, sou reconhecido pelos meus pares e isso já é de grande valia pra mim, mas espero que o público em geral tome consciência (e isso já está acontecendo) que “Sucesso” definitivamente não é “isso” que estão descaradamente nos vendendo há muito tempo. Mas isso é um assunto já bastante visitado, não desperdiçarei mais sua inteligência e nem o meu tempo.

20– Qual a influência de sua terra, em seu trabalho, em suas letras, por exemplo? O que você “deve” ao jeito potiguar de ser?

A minha terra é uma estrela nesse céu de bilhões de estrelas e eu sempre a encontro, por mais perdido que as vezes me encontre, como já falei, mas falar do meu jeito potiguar de ser, seria como um adulto descrever o que sente ao ver uma foto de quando tinha cinco anos de idade. São Paulo é uma cidade voraz, veloz, dominadora, um moinho...aqui tudo é triturado, moído e transformado em algo nem melhor, nem pior, mas diferente...Digamos que hoje eu seja um índio potiguar que adora virado à paulista, ou pra ser mais preciso...vou usar o titulo de um dos meus shows que mais define isso com precisão...sou um papa-jerimum virado a paulista (Papa-jerimum são os nascidos no estado do Rio Grande do Norte e virado a paulista é um prato típico de São Paulo, e que por sinal, adoro) que não desiste nunca.

21- Conte-nos um pouco de seus sonhos futuros, o que mais vem por aí? O que os admiradores de seu trabalho podem esperar?

Eu também gostaria de saber (rs) depois do Prêmio Jabuti, tudo está acontecendo muito rapidamente e o músico tem que por diversas vezes sentar no banco de reservas desse jogo tão disputado e confesso que não é fácil pra ele. A bola rolando solta e ele lá, sentado, roendo as unhas, arrancando os cabelos, andando prum lado e pro outro e o técnico nem aí...tenho diversos projetos na música, mas a poesia tá tomando a frente. Acho que uma hora vou ter que lhe dar um safanão. Tenho que terminar um novo disco de músicas minhas sobre poemas de autores contemporâneos...tem um disco só com minhas canções. Tenho um convite em aberto pra tocar no Sul da França ano que vem...tenho uma pequena turnê por algumas cidades da Bolívia, Uruguai, Paraguai, Argentina...só não sei como farei isso, pois os projetos do livro depois do prêmio não me deixam mais tempo pra nada...por favor...me diga, o que faço? rsrs

22- Já passou por alguma situação constrangedora como artista? Algo até mesmo hilário...

Tem várias. Sou muito conhecido no Rio Grande do Norte: Em Natal e outras cidades, mais precisamente em Mossoró...não quero parecer pedante, mas sou celebridade lá. E um dia me convidaram pra fazer uma apresentação num dos mais famosos espetáculos que acontece lá todo ano: é o “Chuva de balas” um espetáculo no nível de “Paixão de cristo” de Pernambuco. Uma coisa grandiosa mesmo. Teatro a céu aberto contando o episódio em que Lampião entrou em Mossoró e foi escorraçado. Era Copa do Mundo e quando o carro veio me pegar no hotel, logo após, todas as pessoas estavam nas ruas comemorando a vitória do Brasil, claro! E ai, eu estava atrasado e não conseguíamos andar. Chegamos ao local do espetáculo em cima da hora...entrei no camarim e todos os produtores, maquiadores e tudo mais vieram pra cima de mim, me deixando ainda mais nervoso. Quando tudo estava resolvido, e o apresentador anunciava meu nome, o ator que faz o lampião (já vestido do personagem) veio até mim e disse “Sou teu fã. Você pode tocar uma música pra mim? É aquela” e começou a cantarolar a música. Eu o ouvia, mas também prestava atenção no apresentador anunciando meu nome. Eu lhe falei, “Olha, hoje vou tocar apenas músicas minhas, essa música do Alceu Valença eu não toco mais, me desculpe” Aí minha ex-esposa (na época esposa) disse “Bessa, essa música é sua” a música era minha, mas na correria, na adrenalina, não consegui identificá-la. Fiquei tremendamente sem jeito. Depois, no avião, rimos muito. Foi basicamente isso.

23- Angico, disco lançado em 2004, nos traz um novo som, novas formas de se ouvir Reynaldo Bessa, como por exemplo, a utilização de ruídos eletrônicos, guitarras distorcidas. Você diz sobre Angico que: “Este disco sou eu”. O que você quis dizer com esta afirmação?

Adorei fazê-lo. Catarse total. Gostei de tudo nele. Todo o Resultado sonoro como também o trabalho visual. As fotos estranhas, distorcidas como as guitarras nas músicas...foi um momento de experiências que só com o tempo pude perceber que quase ninguém havia ainda tentado fazer aquilo que estávamos fazendo...só muito depois é que todos passaram a fazer e ai a coisa proliferou. É um disco totalmente experimental e principalmente temperamental..rsrsrs. Um disco à Bessa.

24- Conte-nos sobre a experiência de ter sido selecionado, em 2005 com o Disco Angico, para o Prêmio TIM de Música. O que você acredita ter chamado mais a atenção dos julgadores?

Isso tudo que falei agora acima...era tudo novo...nada disso estava sendo feito, a não ser por uma pequena parcela dos músicos que estavam antenados com as novas tendências. É um disco livre, inventivo, forte, estranho. Quando vez ou outra o escuto, ainda encontro novidades...acho que foi isso...um disco que já nasceu diferente...foi talvez esse estranhamento que tenha chamado atenção...além de mim na capa, claro! rsrs

25- Muitas de suas canções são poemas de poetas reconhecidos ou não, escolhidos e musicados por você, o que resulta num efeito de encantamento e de superação dos próprios poemas. Como é feita a seleção desses poemas a serem musicados? O que o poeta e compositor pensa, sente, no momento da composição?

Digo sempre que não escolho o poema, o poema é que me escolhe...e tem sido assim...e está sendo assim também para o próximo disco...o volume 2 (rs) não tem amigo, coleguismo, nada, o poema é quem manda...acho que por isso é que tem dado muito certo. Depois de escolhidos todos os poemas...geralmente “dez” começo a fazer as músicas...sempre pensando numa diversidade uniforme, se é que é possível isso, mas as coisas acontecem e tenho curtido muito isso...o letrista, por melhor que seja, acaba se repetindo quando tem uma obra extensa..então é bom poder conhecer o que outras vozes tem a dizer...o Carpinejar quando ouviu “Cartas de Amor” seu poema musicado por mim, disse: “Ele nasceu pra ser música” fiquei feliz, pois quando musico poetas mortos, beleza...esses não reclamam, mas musicar poetas vivos, é muito, muito complicado...não costumo mudar nada, aliás, acho que não posso, não tenho o direito de mudar nada nas obras, então tenho que achar a música que vista perfeitamente esse poema. Como me sinto no momento da composição? Sinto-me como uma mulher, num sábado á noite, procurando em seu guarda-roupa, o vestido ideal. As mulheres, sempre as mulheres.

26- Sua música pode, perfeitamente, ser excelente fonte de trilhas sonoras para novelas e filmes brasileiros, com melodia e sonoridade indispensáveis ao grande público. Já lhe ocorreu algum convite deste tipo?

Falam muito isso e até já aconteceu sem acontecer...entende? nem eu. Vou explicar. O Zé Rodrix foi convidado pra fazer toda a trilha sonora do filme “Pelé Eterno” e me chamou. Fizemos várias músicas...uma a Gal Costa ia cantar, uma outra era pro Moraes Moreira, outra se não me engano agora era pro Milton Nascimento...lindo..mas esses bastidres são muito complicados...fulando se desentendeu com sicrano e o projeto bateu num iceberg maior que o do Titanic...resumindo...em virtude disso mudou o produtor musical e eu e o Zé ficamos a ver navios, o Titanic inclusive. Sobre novelas, tem gente que teima comigo que ouviu uma musica minha na das oito, mas já estou acostumado...sorrio de lado e digo...é minha sim...e eles dizem...nossa que legal...eu sabia...rsrsrsrsrs

27- Qual a emoção de Receber o Prêmio Jabuti 2009 sendo, “Outros Barulhos”, o seu primeiro livro de poemas? Ter concorrido com poetas reconhecidos e renomados, como Ferreira Gullar, agrega valores a este Prêmio?

Eu costumo dizer que foi “Um susto delicioso” e como diz um amigo meu “você entrou pra turma” é um prêmio muito cobiçado, muito importante para o escritor, reconheço, mas não devemos ficar presos a isso. Temos que escrever e escrever e só. Prêmios são conseqüências de um trabalho bem feito...òbvio que disputar com figuras de peso como Ferreira Gullar e Afonso Ávila, entre tantos outros me deixa orgulhoso, Claro! mas tenho que olhar pra frente..quem olha pra trás é retrovisor...quero outros prêmios, sim...mas antes de tudo vem o trabalho. Quero continuar escrevendo bem.

28- Gostaria de dizer algo para seu público?

Comprem meus discos, meu livro. Falem de mim, podem falar mal, ta valendo, mas falem. Pode ser um clichê o que vou dizer agora, mas é a mais pura verdade...”O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário” Um país depende muito da cultura de seu povo.

29- Onde e quando serão seus próximos shows?

Farei shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, depois toco em quatro cidades da Bolívia e tem um projeto pro sul da França ano que vem. Estou preparando meu segundo livro de poemas (Por esses tempos estarei empenhado nisso) mas, tenho dois romances e um livro de contos prontos. Estou em negociação com algumas editoras que se interessaram por meus escritos, mas quero ressaltar que estou aberto a outras tantas propostas, e que venham. É isso. Obrigado Luciana, pelo espaço e pelas belas perguntas. Vamos nos falando. Beijos.

Fotos retiradas do site: http://www.reynaldobessa.com.br/
Entrevista concedida em: 08 de março de 2010

6 comentários:


Luciana Campos disse...
Oi Luciana, tudo bem? Que bom que gostou das respostas. Também fico feliz. Gostei muito de responder suas belas perguntas. Muito pertinentes. Queria te agradecer novamente pelo espaço e te desejar muito sucesso com tudo que está fazendo e venha a fazer, ok? Qualquer coisa, estou por aqui e quando vier a São Paulo, por favor! venha tomar um café comigo. Vc será sempre muito benvinda. Reynaldo Bessa.
Luciana Campos disse...
Olá Luciana, tudo bem ? PARABÉNS !!! Adorei seu Blog, muito bom gosto e belos textos em uma composição bem legal, como tudo que vc faz. obs. Obrigado pelo telentoso poeta quando se reveriu ao Nós da Poesia. Desejo muito sucesso!!! beijos Cláudio Márcio
Reynaldo disse...
Luciana, tudo bem. Recebi as fotos. Ficaram muito boas. Tudo o que voce faz fica sempre muito bem feito. desejo todo o sucesso do mundo pra voce. e que seus campos aumentem para caber todas as lucianas que vocé é e será. bjs Reynaldo Bessa
Luciana Campos disse...
Parabéns, pela longa e rica entrevista com o potiguar Bessa. Quando professor do Curso de Jornalismo na FEPESMIG, campus da UEMG em Varginha, um dos assuntos da disciplina que ministrava era "entrevista". Você demonstrou, perfeitamente, cumprir o principal requisito de entrevistador: conhecer muito bem a obra do entrevistado, antes da entrevista. Beijo. Aníbal Aníbal Albuquerque EMBAIXADOR UNIVERSAL DA PAZ (Cercle Universel des Ambasseurs de la Paix - Genebra - Suíça) VARGINHA - MG - BRASIL
Luciana Campos disse...
Bom dia Luciana, Li com carinho a sua nova entrevista com o artista Bessa. Chama-me a atenção a preciosidade como voce enquanto jornalista e profissional conduz, nesta não mais nova blogmídia onde há tanto trash. Perguntas inteligentes merecem respostas inteligentes! Precioso! Jóia rara seu blog! Parabéns! Sucessso sempre! Um abraço Báltico daqui do outro lado do Atlântico Nil Lus Cantor, compositor.
Graça Campos http://gracacampos.blogspot.com/ disse...
Querida Lu: Que beleza de trabalho aqui registrado! Fiquei conhecendo através dessa entrevista o talento, a sensibilidade do músico, poeta, cantor e compositor Reynaldo Bessa, do qual me tornei fã. Perguntas inteligentes e respostas admiráveis,onde não esquecerei de detalhes de revelações do homem artista e cheio de afeto pela genitora. "Eu sou o som dos chinelos de minha mãe." (Frase da entrevista) Simplesmente lindo! Adorei! Beijos e sucesso, minha linda! Sua mãe, Graça Graça Campos

Reflexão...

“Sonhe com o que você quiser.Vá para onde você queira ir.Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.Dificuldades para fazê-la forte.Tristeza para fazê-la humana.E Esperança suficiente para fazê-la feliz." Clarice Lispector